Lançamento DVD | Keco Brandão – Com Vida

Keco Brandão tinha muita música em casa. De erudita a pop, passando por soul, MPB, música francesa, italiana, orquestra e todos os tons do arco-íris sonoro. E tinha um piano, onde começou a unir teoria e prática. Fez carreira desde cedo nesse amor precoce, trabalhou com alguns dos maiores nomes do cenário brasileiro e agora devolve toda vivência no CD/DVD “Com Vida”, onde assume protagonismo da história com o aval de artistas como Ivan Lins e Zizi Possi.

O projeto começou de parceria com a cantora Denise Mello, na talvez mais desnuda canção das 15 presentes no trabalho, “Na Contramão”. Denise Mello no vocal e Keco Brandão no piano (e teclados e arranjos). A música é assinada pelos dois e explicita a influência relatada acima. Entraram em estúdio para registrá-la também em vídeo, com depoimentos contando a história da composição. Aí acendeu a luz para Keco do formato que lhe atraía – dar prosseguimento no modelo de contar a história por trás da música, tocá-la com artistas que fizeram parte de sua trajetória e entregar de presente ao público.

A trajetória é das mais ricas. Ele nasceu em Porto Alegre, morou no Rio de Janeiro, São Paulo e Recife, onde absorveu caldeirões riquíssimos culturais, do frevo e maxixe aos compositores locais de cada uma das paragens. Em São Paulo descobriu o “lado B” da MPB, com a vanguarda local, Tetê Espindola, Arrigo Barnabé, Vânia Bastos. Formou a banda Ópera Brasil, ainda bem jovem – “até hoje ouço o que fazíamos e fico impressionado como éramos ousados em arranjos para tão pouca idade” -, entrou no experimental O-Kotô, que misturava música japonesa a jazz, fusion, rock e pop, e seguiu em frente.

Abriu frentes na publicidade e em emissoras de TV, compondo e produzindo jingles e trilhas, onde aprendeu a trabalhar artisticamente sob pressão de deadlines, e seguiu trabalhando a musculatura de compositor e músico de parcerias, ao lado desses artistas de primeiro escalão da música brasileira, como Zizi Possi e Gal Costa.

“Costumo dizer que cada artista é uma escola de música em nossas vidas. Cada um te propõe um desafio diferente, num momento diferente da sua vida. Com todos eu aprendi alguma coisa. Cada um tem seu estilo, sua forma de trabalhar, sua musicalidade e eu tive que entrar e me adaptar ao universo de cada um deles. Hoje canto por total apoio e influência da Jane Duboc e Gal Costa. Elas foram as primeiras artistas que me incentivaram a cantar, me convidando, inclusive, a dividir canções com elas durantes os shows”, conta.

Foi desse enredo que Keco pariu “Com Vida”. Da babel que é a música, cantada e reverberada em língua universal, como na abertura em espanhol, “En Aranjuez con Tu Amor”, onde ele faz piano e responde pelos arranjos suaves de cordas na cama para a voz de Simone Guimarães.

O vocal é de Filipe Catto em “Viagem”, uma quase Bossa Nova com metais, e o espanhol retorna em “Pasarero”, com retorno dos marcantes violão, piano e baixo acústico e modulações vocais de Tatiana Parra.

A positiva ausência de fronteiras do universo musical de Keco remete a um jazz no piano e voz de Sachal Vasandani em “Sweet Bird of Youth”, originalmente “Eu e a Brisa”, de Johnny Alf e Jack Segal.

Dois momentos emocionantes a acompanham, quando a música popular brasileira é celebrada nas parcerias de assinaturas indiscutíveis de “Encontro dos Rios”, com e de Ivan Lins, e “A Força”, igualmente assinada pelo primeiro, mas aqui cantada por Zizi Possi.

“Filho do Mar” traz novamente o vocal de Simone Guimarães e, mais uma recorrência no trabalho, arranjos de extremo bom gosto em cordas de violão, cello, viola e violino, fora o piano. Tatiana Parra é outra que retorna ao microfone em composição assinada por Keco em parceria com Jair Oliveira, “Timidez”.

O trabalho abre portas para o samba “Cura”, dele com Carlos Saraiva e com o vocal feminino de Fabiana Cozza, e traz brecha para uma vertente pop-sambista na Bossa Nova em inglês “Sooner or Later”, outra de Keco com Sachal Vasandani.

Na sequência temos a referida música que deu Norte ao trabalho, “Na Contramão”, e um fado no sotaque lusitano de Sueli Vargas, e sons de viola portuguesa e bandolin.

“(Esse disco foi) Um tremendo desafio, que resultou no fato de eu ter cantado a faixa ‘Emília’, sozinho, como voz solo. Isso era inédito em minha carreira até esse CD”, resume sobre a canção seguinte, que tem também o próprio no piano.

Voz e piano marcam “Meu Poema é o Silêncio”, de Flávio Paiva, com vocal de Simone Guimarães e a influência do Jazz e fusion, arremata em “Agnus Dei”, na voz de Heitor Branquinho.

Arremata é modo de dizer, pois Keco já vislumbra sequência.

“Muito provavelmente vou prosseguir com o projeto ‘Com Vida’, pois muitos amigos artistas, cantores e músicos, acabaram ficando de fora deste primeiro. Por outro lado, fica também o gostinho de ‘quero mais’ e a certeza de que a continuação virá. Tem ótimas surpresas vindo por aí. Mas vamos focar no presente.”

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