Canal Futura lembra os 10 anos dos Crimes de Maio em São Paulo

Em maio de 2006, São Paulo foi palco de uma série de ataques envolvendo policiais e o crime organizado. Ao longo de uma semana, foram assassinadas mais de 500 pessoas em todo o Estado de forma indiscriminada e, ainda hoje, os responsáveis pelas mortes não foram punidos nem a chacina saiu da invisibilidade. No próximo dia 12 (quinta-feira), quando o episódio completa 10 anos, o Canal Futura estreia o documentário “Não saia hoje” sobre os Crimes de Maio.

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Maio também é o mês das mães e, neste evento, a história de centenas de mulheres foi transformada. O filme parte da experiência de um grupo de mães da periferia de Santos, em São Paulo, que busca justiça pelo assassinato de seus filhos no que é considerado um dos maiores massacres da história recente do Brasil.

O título “Não saia hoje” faz referência à frase que foi dita por Débora Maria, fundadora do coletivo Mães de Maio, ao seu filho Rogério, que mesmo após o toque de recolher, saiu de casa e acabou sendo morto. Assim como outras mães, Débora Maria é protagonista de uma história de luto e esperança. Junto de Vera dos Santos e Lúcia Andrade, ela conta como reconstruiu sua vida e forjou para si um novo lugar de empoderamento, força e solidariedade.

Para Susanna Lira, diretora do documentário, a história dessas mães vai muito além da superação. “As Mães de Maio lutam para que outros filhos não tenham o mesmo destino que os delas tiveram. Elas se tornaram ativistas internacionais, viajam pelo Brasil todo e também para o exterior com o objetivo de denunciar violações de Direitos Humanos e propor mudanças na legislação como forma de redução dos danos causados pela violência urbana. A luta por justiça relacionada a uma tragédia de uma década atrás, infelizmente ainda é muito atual, continua fazendo sentido e ganhando ressignificações”, diz. “Como documentarista e mãe, foi bastante difícil ouvir os relatos sobre a ausência insubstituível que esses filhos deixaram. Para a sociedade são apenas números, mas para quem perde um filho é um abismo que se abre, uma construção que se rompe, um sonho acalentado que lhe é arrancado do peito”, completa.

O documentário “Não saia hoje” é uma produção do Canal Futura em parceria com a Modo Operante e foi vencedor do 6ª pitching DOC Futura, promovido todos os anos pelo Canal. “Mais uma vez, o Futura propõe a reflexão sobre pautas atuais e por vezes polêmicas. O desafio de buscar novos olhares já se tornou uma constante nos documentários coproduzidos pelo Canal. ‘Não saia hoje’ acompanha mulheres fortes, que após passarem por grandes perdas, reconstruíram suas vidas. Ao mesmo tempo, também aborda questões que são urgentes em nossa sociedade: o preconceito, o extermínio de jovens nas periferias, o encarceramento e a redução da maioridade penal”, afirma Lúcia Araújo, gerente geral do Canal Futura.

NÃO SAIA HOJE

Estreia: 12 de maio de 2016
Horário: 21h

Crimes de Maio

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Em 11 de maio de 2006, a Secretaria de Administração Penitenciária decidiu transferir 765 presos, após escutas telefônicas terem revelado que organizações criminosas estariam planejando rebeliões para o Dia das Mães, que aconteceria no dia 14 daquele mesmo ano.

Após a transferência do líder do PCC (Primeiro Comando Capital), Marcos Willians Herba Camacho, conhecido como Marcola, no dia 12, foram realizados motins em 74 penitenciárias do Estado de forma articulada. Na noite daquela sexta-feira, integrantes da facção criminosa deram início ao maior atentado contra as forças de segurança pública do Estado da história, que gerou uma das retaliações mais sangrentas do período democrático brasileiro. Delegacias, carros e bases da Polícia Militar, Polícia Civil, Corpo de Bombeiros e Guarda Civil Metropolitana foram atacados.

A cidade de São Paulo entrou em colapso. Com uma série de boatos, incluindo toques de recolher, o medo se instaurou em todo o Estado. O temor deixou a maior cidade do país deserta, até em seus horários mais movimentados. Cerca de 40% das escolas e universidades foram fechadas,  comércio e repartições públicas também baixaram as portas. Um terço da frota de ônibus ficou na garagem depois de mais de 90 veículos terem sido incendiados em todo o Estado. Até uma ameaça de bomba chegou a fechar o aeroporto de Congonhas, na zona sul da cidade.

Por estas razões, uma série de medidas foram tomadas como resposta a toda a tensão e perigo instaurados na região. Segundo pesquisadores, principalmente nas periferias da capital, interior e litoral, aconteceram muitos ataques de agentes de segurança pública contra civis. Foram assassinados 493 jovens e nem todos os suspeitos têm, até hoje, envolvimento comprovado com o crime organizado. O episódio é o maior e mais emblemático massacre da história brasileira recente, sendo um marco do que pesquisadores de violência urbana convencionaram chamar de “Era das Chacinas”, iniciada com a Chacina de Acari em 1990.

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