Chucho Valdés traz a Porto Alegre sua mais nova turnê, Border-Free

Vencedor de cinco Grammy e de três Grammy Latinos, o pianista, compositor e arranjador cubano Chucho Valdés é a personalidade mais influente na história moderna do jazz afro-cubano. Com realização da Opus Promoções e da Dell’Arte Soluções Culturais, o músico fará show em Porto Alegre dia 14 de setembro, às 20h, no Auditório Araújo Vianna. O jazzista traz à capital gaúcha sua mais nova turnê, Border-Free, acompanhado da banda The Afro-Cuban Messengers.

Seu trabalho mais recente, Border-Free, inclui sete novas composições originais e é uma mostra da uma procura musical que transcende estilos e tradições. Nessa gravação, na qual Valdés está novamente acompanhado pelos seus Afro-Cuban Messengers, a música faz referência ao flamenco, aos ritmos dos Gnawa do Marrocos e à música ritual dos Orixás; inclui gestos do hard-bop e o danzón, mas também traz ecos de Bach, Rachmaninoff e Miles Davis.  O resultado é um som profundamente pessoal e sem restrições.  É o som de Chucho Valdés.

“Eu tinha essa ideia de tomar elementos diferentes, misturá-los e ver o que aconteceria desde que era estudante. E pouco a pouco, com o tempo, encontrei o meu jeito”, diz Chucho. “E eu adoro, porque é uma procura que obriga a gente a pesquisar e a estudar. Nem tudo é música afro-cubana. Sempre estou procurando coisas novas”. A ideia do Border-Free “foi fazer muitas coisas de outro jeito, mas sob o meu próprio estilo. Isso sim é algo diferente de conseguir”.

Dionisio Jesús “Chucho” Valdés Rodríguez, nasceu em uma família de músicos em Quivicán, província de Havana, Cuba, em 9 de Outubro de 1941. Os seus primeiros professores foram o seu pai, o pianista, compositor e diretor de orquestra Ramón “Bebo” Valdés e a sua mãe, Pilar Rodríguez, quem cantava e tocava o piano.

Aos três anos, Chucho já tocava o piano, de ouvido, com as duas mãos e, em qualquer tom, as músicas que ouvia no rádio.  Existe uma conhecida anedota que diz que Bebo, brincando com um grande amigo, o grande baixista e compositor Israel López “Cachao”, que lhe pediu que ouvisse, sem olhar, de costas, um “jovem pianista norte-americano”. Chucho tinha, na época, quatro anos.

Aos cinco anos, Chucho começou a receber aulas de piano, teoria e solfejo, com o maestro Oscar Muñoz Boufartique, estudos que concluiu no Conservatório Municipal de Música de Havana, aos quatorze anos.  Chucho também teve aulas com Zenaida Romeu, Rosario Franco, Federico Smith e Leo Brouwer.

“Na casa do meu pai ouvia discos de Ellington, Count Basie, Glen Miller. Fui um privilegiado. Como Bebo era o pianista no Tropicana, eu tive a possibilidade de ver verdadeiras lendas do jazz em pessoa. Ele me levou para ver a Nat King Cole, Erroll Garner e a Sarah Vaughan quando eu ainda era uma criança que estudava música. É impossível imaginar o efeito que isso teve na minha vida. Foi enorme. Foi mágico”.

Com quinze anos, Chucho formou o seu primeiro trio de jazz e em dezembro de 1958 trabalhou como pianista nos hotéis Deauville e St. John de Havana. Em 1959 estreou na orquestra Sabor de Cuba, dirigida pelo seu pai, e com ela acompanhou muitos intérpretes importantes da época, como Rolando Laserie, Fernando Álvarez e Pío Leyva.

“O Bebo me ensinou tudo sobre a música cubana, a música sul-americana, o jazz e como trabalhar com a orquestra”, diz Chucho.  “Ele me deu a posição de pianista da orquestra e ficou como diretor, assim eu podia aprender a trabalhar sob uma direção. Com essa orquestra fizemos o nosso show e um milhão de coisas mais, incluindo shows no Havana Hilton. Aprendi muito com essa experiência. Ele é o meu ídolo. Não digo que ‘foi‘ o meu ídolo, ele ‘é‘ o meu ídolo. Ele foi o meu maestro e ainda é.”

A vida familiar e profissional de Chucho teve uma dramática reviravolta em 1960, quando o seu pai foi trabalhar no México e depois para a Europa, fixando domicílio na Suécia. Bebo Valdés nunca voltou para Cuba. Pai e filho voltaram a se ver 18 anos depois, no Carnegie Hall, onde Chucho estreava com o seu conjunto Irakere. O vínculo foi restabelecido plenamente a partir do ano 2000, quando tocaram em dueto no Calle 54, o filme sobre jazz latino do diretor espanhol Fernando Trueba.  A extraordinária história desse reencontro terminou, musicalmente, em Juntos para Siempre, uma gravação de 2007 que ganhou um Grammy e um Grammy Latino. Bebo Valdés faleceu em março de 2013 aos 94 anos.

No início dos anos 1960, Chucho trabalhou como pianista no Teatro Martí (1961), no Salão Internacional do Hotel Habana Riviera (1963) e na orquestra do Teatro Musical de la Habana (1964-67).   Nesse último ano, e por recomendação do seu velho mestre, o grande guitarrista, compositor e diretor Leo Brouwer, Chucho organizou o seu próprio conjunto.

Também em 1967, Chucho ingressou na importante Orquestra Cubana de Música Moderna, dirigida então pelos maestros Armando Romeu e Rafael Somavilla. Já dentro da Orquestra, Chucho retomou a ideia do conjunto e em 1970 estreou liderando um quinteto no Festival Internacional de Jazz Jamboree, na Polônia.

Em 1972, depois do Jazz Batá, uma gravação de trio de jazz “a la cubana” com o baixista Carlos del Puerto e o percussionista e intérprete Oscar Valdés em tambores batá (tradicionalmente usados na música dos Orixás, também conhecida como Macumba), Chucho decide ampliar o formato acrescentando metais e bateria de jazz.  Assim nasce, em 1973, o Irakere, uma pequena big band que oferece uma explosiva mistura de jazz, rock, música clássica e uma ampla variedade de música tradicional cubana, incluindo instrumentos e ritmos da música de rituais religiosos afro-cubanos.

“As ideias dos metais (no Irakere) tem a ver com o trabalho da Orquestra Cubana de Música Moderna,  a qual era uma grande big band,” diz Chucho. “Tentei imitar esse som com os quatro metais: dois trombones, um sax alto e um tenor – e, com isso, tentar fazer o som de uma big band. Claro que quando você tem monstros como Paquito D’Rivera, Arturo Sandoval,  Jorge Varona e Carlos Averhoff, você pode escrever qualquer coisa que vai soar bem.”

O grupo teve o seu grande primeiro impacto internacional em 1976, na Finlândia, e no ano seguinte foi descoberto pelo grande Dizzy Gillespie durante uma visita a Havana em um cruzeiro de jazz do qual também faziam parte o pianista Earl “Fatha” Hines e o saxofonista Stan Getz. Em 1978, o produtor Bruce Lundvall, então presidente da CBS, contratou o Irakere para o seu selo e o conjunto fez a sua estreia nos Estados Unidos no Carnegie Hall como parte do Newport Jazz Festival como “convidados surpresa”, sem serem anunciados publicamente.  Por essas coisas do destino, naquela noite, o programa incluía duas das maiores influências de Chucho: os pianistas McCoy Tyner e Bill Evans.

Uma seleção de temas do concerto no Carnegie Hall e da atuação do conjunto no Festival de Jazz de Montreux, Suíça, organizou o programa do primeiro disco do conjunto lançado nos Estados Unidos. Chamado simplesmente Irakere (CBS), a gravação ganhou um Grammy® como Melhor Álbum de Música Latina em 1979.

Desde então o Irakere criou um imponente legado que inclui tanto grandes obras de música dançável como Homenaje a Beny Moré (Pimienta, 1989) e Indestructible ( Sony, 1997); explorações com música religiosa afro-cubana como Babalú Ayé (Bembé, 1999) com o grande intérprete de música de Orixás Lázaro Ros; bem como ambiciosos projetos como Tierra En Trance (Areíto, 1983) e Misa Negra (Messidor, 1987)

Por diferentes razões, o Irakere foi mudando os seus membros através dos anos.  Chucho permaneceu como o grande nome constante.  Mas o sucesso teve os seus custos.  Exceto pelo excelente álbum solo Lucumí (Messidor, 1986), o seu talento como pianista foi por muito tempo obscurecido pelas suas outras obrigações em Irakere.

Em 1997, Chucho ganhou o seu segundo Grammy pela sua participação em Habana (Verve) como membro do Crisol, o conjunto liderado pelo trompetista Roy Hargrove. No ano seguinte, sem abandonar completamente o Irakere, Chucho iniciou uma carreira paralela como solista e líder de quartetos para, dessa forma, explorar mais plenamente as suas possibilidades como pianista.

“Vinte e cinco anos como a mesma banda é muito tempo”, disse Chucho em determinado momento.  “Quis tocar solo e com o quarteto por muito tempo. O meu trabalho como pianista e como solista se dilui no Irakere. O meu trabalho ali é ser arranjador, diretor musical e compositor, o qual é um trabalho completamente diferente”.

Chucho permaneceu no Irakere até 2005, e desde então está completamente focado na sua careira individual. Essa nova etapa foi marcada por hits como Solo Piano (Blue Note, 1991), Solo: Live in New York (Blue Note, 2001) e New Conceptions (Blue Note, 2003), bem como gravações com quartetos, como Bele Bele en La Habana (Blue Note, 1998), Briyumba Palo Congo (Blue Note, 1999) e Live at the Village Vanguard (Blue Note, 2000) o qual inclui a sua irmã, a vocalista Mayra Caridad Valdés e ganhou o Grammy como Melhor Álbum de Jazz Latino. Esse prêmio foi seguido pelos recebidos por Juntos Para Siempre (Calle 54, 2007), o seu dueto com o seu pai, Bebo, e o Grammy por Chucho’s Steps (Comanche, 2010), com o seu novo conjunto, os Afro-Cuban  Messengers .

Em 2012, Chucho reorganizou os Afro-Cuban Messengers e o grupo agora inclui Yaroldy Abreu na percussão e Dreiser Durruthy Bombalé nos batá e vozes; Reinaldo Melián, trompete, Gastón Joya, baixo e Rodney Barreto, bateria. A sua produção mais recente, Border-Free, é outra expressão mais da constante procura e evolução de Chucho Valdés como pianista, compositor e diretor.

SERVIÇO
CHUCHO VALDÉS NA TURNÊ BORDER-FREE
Data: 14 de setembro
Horário: Domingo, às 20h
Auditório Araújo Vianna
Endereço:
Av. Osvaldo Aranha, 685
www.oiaraujovianna.com.br

INGRESSOS

Setor Valor
Plateia Alta Lateral R$ 100,00
Plateia Alta Central R$ 150,00
Plateia Baixa Lateral R$ 200,00
Plateia Baixa Central R$ 200,00

*As informações são de responsabilidade de seus organizadores e estão sujeitas a alterações sem aviso prévio.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *