Sesc São José dos Campos realiza o “projeto Hoje tem marmelada? O brinquedo popular no circo”

O Sesc São José dos Campos realiza, entre fevereiro e maio, o projeto Hoje tem marmelada? O brinquedo popular no circo, que apresenta uma parte do universo circense no Brasil, reforçando sua articulação com a cultura popular.

O ponto principal do projeto são os 102 brinquedos artesanais confeccionados por diferentes brincantes e artesãos do país e de fora dele, todos reunidos pelo Instituto Sócio-Cultural Brinquedo Vivo, de São Paulo, e que retratam momentos lúdicos e oníricos da atmosfera circense.

Dividida em três movimentos, a exposição traça um panorama do circo e sua relação com a cultura popular, faz uma homenagem aos palhaços anônimos e eméritos e, por fim, apresenta as linguagens e figuras presentes no circo da vida.

O primeiro movimento, “O circo como lugar da cultura popular” instalado na Área de Exposição do Sesc introduz o circo no Brasil por meio de um painel com sua linha histórica, relacionando suas práticas à cultura popular, desde equipamentos e modalidades circenses, meios de transporte até personagens de espaços e tempos: o pipoqueiro, o vendedor de biju, de algodão doce e os palhaços.

Na sala de múltiplo uso, o movimento “O coração do circo”, presta uma homenagem aos palhaços anônimos e eméritos nacionais,  ligando-os às manifestações culturais: os palhaços populares, o excêntrico, o clown, os famosos, a partir de distintos brinquedos elegantes, rudes, desajeitados, ingênuos e risonhos. Dez ilustrações desenvolvidas pelo cartunista Jean Galvão, remetem às 5 duplas que compõem o painel dos palhaços ilustres.

Em, “O circo na arte da vida”, estão dispostas no Hall do Auditório distintas figuras, linguagens e papéis sociais que  se conectam com as realidades presentes no circo: a banda musical, a bailarina, os trapezistas, os malabaristas, os fantoches e os manés gostosos.

A história do Circo e do Palhaço no Brasil

O circo moderno nasceu por volta de 1770, em Londres, na Inglaterra, com um espetáculo que reuniu no picadeiro dois grupos distintos: ex-militares da cavalaria inglesa, especialistas em volteios e adestramento de cavalos, e saltimbancos, artistas nômades que se apresentavam nas praças, feiras e teatros populares. Graças ao nomadismo dos saltimbancos, o novo gênero de espetáculo se espalhou rapidamente pelo mundo.

No Brasil, a novidade do circo moderno chegou no século XIX, com as primeiras famílias circenses vindas de vários lugares do mundo, especialmente da Europa. Quando começaram a viajar e a chegar a lugares onde só o circo chega, foram absorvendo a cultura popular, legitimamente brasileira. O circo europeu, que aqui recebeu o nome de Circo de Cavalinhos, viu assim, seu caráter internacional se diluir em criações locais, tornando-se nacional.

Uma das mais marcantes misturas que esse processo possibilitou ao circo foi a do espetáculo com a música. Aliás, isso começa antes do espetáculo: na rua, no cortejo do circo pela cidade. Dele surge o palhaço de rua, aquele que entoa as chulas, sempre acompanhado pelo público.

Outro tipo local é o palhaço cantor-ator-instrumentista. Sempre acompanhado do seu instrumento, ele canta, faz piadas, paródias, e entoa o lundu, gênero que alia a musicalidade europeia ao ritmo africano. Muitos palhaços-cantores fizeram fama no circo no final do século XIX; tanto que foram chamados pela Casa Edson para gravarem os primeiros discos produzidos no Brasil. O palhaço Baiano, por exemplo, emprestou sua voz para a primeira gravação feita no país: o lundu Isto é bom, em 1901.

O circo incorporou o teatro e criou o mais popular dos gêneros: o circo-teatro. Ele conquistou o público com a encenação de comédias e melodramas e dividiu o espetáculo em dois: a primeira parte de variedades e a segunda de teatro.

O circo-teatro nasceu na virada do século XX e foi consagrado pelo palhaço Benjamim de Oliveira com a adaptação da opereta A viúva alegre, para o Circo Spinelli em 1910. Além disso, o gênero recriou as tradicionais encenações religiosas ao colocar em cartaz a Paixão de Cristo, e encenou, desde as sagas heróicas que aparecem na literatura de cordel, até melodramas franceses e adaptações de romances literários e filmes de cinema.

Nos anos 1920, o movimento do Modernismo rompeu com as influências culturais europeias e buscou referências nas culturas do índio e do negro. É quando Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral, entre outros, vão parar nas arquibancadas do Circo Alcebíades-Piolin, montado no Largo do Paissandu, no centro de São Paulo.

O palhaço Piolin tornou-se referência para o grupo, sendo citado em peças e romances. Foi celebrado, aplaudido e “deglutido” simbolicamente num almoço antropofágico organizado pelo amigo Oswald de Andrade, no dia 27 de março de 1929. A data, que marca também o nascimento de Piolin, se tornaria mais tarde o Dia do Circo.

O circo influenciou as artes plásticas e diversos autores ligados ao Modernismo passaram a usá-lo como tema de suas obras. Entre eles estão Djanira, Cândido Portinari, Anita Malfatti, entre outros. Por sua vez, o brincante surge em seu colorido na obra artesanal de Mestre Vitalino (1909-1963), artista de Caruaru, que expõe no Rio de Janeiro em 1947. Ele recriou com barro mini-figuras que retratavam a vida cotidiana do Nordeste.

A linguagem do circo também influenciou o cinema brasileiro desde a sua origem. A fita Coisas Nossas (1931), primeiro musical brasileiro, traz Piolin, Alcebíades e Fuzarca em seu elenco. Outros artistas levaram a linguagem circense para o cinema: Arrelia, Carequinha, Oscarito, Mazzaropi, Os Trapalhões, entre outros.

Com o rádio houve uma intensa troca de influências: o melodrama do circo-teatro vai influenciar as radionovelas, enquanto as tristes histórias contadas pelas modas-de-viola vão servir de tema às peças de circo-teatro.

Em 1950, quando a TV estreiou no Brasil, lá estavam na programação os grandes palhaços do circo brasileiro. Torresmo (Brasil José Carlos Queirolo) e Fuzarca (Albano Pereira Neto) foram os pioneiros, no Circo Bombril, da TV Tupi.

O mesmo programa, no Rio de Janeiro, teve Carequinha (George Savalla Gomes) no comando. E Arrelia (Waldemar Seyssel), manteve programa por longo período na TV Record. O diretor de TV Daniel Filho – de família circense – concorda com o diretor de cinema Nelson Pereira dos Santos quando diz que a televisão é o grande “circo eletrônico” brasileiro.

A ascensão dos meios de comunicação no panorama cultural, a dispersão das famílias circenses e a falta de terrenos nas grandes cidades fizeram com que o espetáculo de circo se tornasse raro no final do século XX. Assim, o ciclo iniciado com a chegada das famílias circenses ao Brasil, alcançou uma nova volta na espiral da cultura.

Os circenses, para resguardar a linguagem do circo, decidiram compartilhar suas artes e saberes. Criaram a Academia Piolin de Artes Circenses, em 1978, em São Paulo, a primeira de várias escolas de circo que viriam a seguir, entre elas o Circo Escola Picadeiro.

No século XXI a linguagem circense vem sendo apropriada pela sociedade e está presente nas mais diversas manifestações culturais: na dança do Hip Hop, nos esportes radicais, no teatro, nas ruas.

O palhaço atravessou o tempo como símbolo da alegria e da irreverência, e hoje vai além do picadeiro. Está nos hospitais, nos escritórios, nas escolas, nos movimentos sociais. Sim, o espetáculo continua! Hoje tem marmelada!

Palhaços famosos

A tradição circense consagrou a dupla de palhaços como protagonistas de situações cômicas (as entradas), as imitações dos números de variedades (as reprises) e as farsas e combinados (comédias curtas).

De um lado, o clown – ou branco – o palhaço de rosto enfarinhado, sempre tentando estabelecer a ordem. De outro, o excêntrico, nariz vermelho e roupas exageradas, sempre levando as situações a partir de uma lógica toda própria.

SERVIÇO
Hoje tem Marmelada?  – O brinquedo popular no circo
Data: 23/02 a 04/05. Terça a sexta, das 13h às 21h30; Sábados, domingos e feriados, das 10h às 18h30
Área Expositiva, Sala múltiplo Uso e Hall do Auditório
Grátis
Recomendação etária livre.

Espetáculos

O Circo Spadoni
Data: 23, domingo, às 16h30
Ginásio
Grátis
Recomendação etária livre

Intervenção

Mala Baristas
Com Irmãos Becker
Data: 23, domingo, às 11h
Convivência
Grátis
Recomendação etária livre

Oficina

Brincadeiras na lona
Com Cia de Estripulias
Datas: 22 e 23, sábado e domingo, às 11h
Praça
Grátis
Recomendação etária livre

*As informações são de responsabilidade de seus organizadores e estão sujeitas a alterações sem aviso prévio.

Fonte: Assessoria de Imprensa/SESC

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