Bernard Herrmann | Confira artigo sobre o compositor e suas famosas trilhas sonoras

Observação: Para conhecer trechos ou trilhas completas: youtube, torrent, etc. Já sabem. Grato.

Outra vez a Frequência Não Modulada não será apenas sobre música. Além da música, vamos falar brevemente de cinema. Quando falamos em cinema, o que vem à nossa cabeça? Trilha sonora, é claro. Bem, pelo menos pra mim. Algumas pessoas saem do cinema já querendo comprar (ou baixar) o filme. Eu saio a procura da score.

Há quem diga que trilhas sonoras não passam de um complemento do filme. Pra mim é muito mais do que isso. Trilhas sonoras são a extensão de um longa metragem. Eu não imagino um filme sem uma score cativante, que fale algo sobre aquela cena em especial. Sendo assim, não é de se estranhar que, às vezes, prestem mais atenção na música do que no roteiro. Ou até na atuação (pedras em minha direção em 3,2,1).

A idéia pra coluna. Vejamos… estou revendo muitos filmes de Alfred Hitchcock nesses dias. Mas um em especial sempre me chamou muito a atenção: Psicose (Psycho, 1960), que desde a adolescência, foi um dos filmes da minha vida. Eis aqui este filme que, claramente, vai bem mais além do roteiro e das atuações: a trilha sonora é realmente o destaque. E quem foi o responsável pela trilha de Psicose? Bernard Herrmann. E ele é uma ótima referência para o assunto. Vamos conhecer um pouco mais dele.

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De 68 scores de filmes compostas por ele, só 8 foram colaborações com Hitchcock, incluindo a trilha de Os Pássaros (The Birds, 1963), onde ele foi supervisor, já que nem chega a ser uma trilha sonora com instrumentos convencionais, por assim dizer. Assista e vai entender o porquê. A trilha de Psicose, com aqueles violinos rasgantes e macabros mesclados a cellos e baixos, diz muito sobre o filme, pois transmite com clareza a aura psicológica da obra.

Essa tensão impactante sobre “cordas”, com suas notas repetitivas, faz do filme um marco e seu estilo é amplamente imitado até hoje. Não que o conflito psicológico do filme não cause medo, pelo contrário. Hitchcock substituiu monstros surreais e imaginários por um de carne e osso. Ou seria só osso? A questão é: a razão do filme causar medo é, sem sombra de dúvida, sua música. É brilhantemente perturbadora.

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Se não me interromperem, vou continuar falando do filme. Melhor focar no Bernard, néam? Bem, não exatamente nele e sim no trabalho dele. Ah, vocês entenderam. Adiante. Herrmann nasceu em Nova York em 29 de junho de 1911. Seu pai o encorajava para a música, especialmente a aprender violino, além de levá-lo para assistir óperas. Aos 13 anos de idade, ele venceu um concurso de composição e decidiu investir na música. Ele foi pra Universidade de Nova York, onde se formou em 1931, e também foi aluno da Julliard School, famosa escola de música, onde estudou composição e harmonia. Aos 20 anos, formou sua própria orquestra, a New Chamber Orchestra of New York.

No ano de 1934, Herrmann foi contratado pela rádio CBS, onde conheceu Orson Welles e começou a compor para o programa The Mercury Theatre, além de compor a trilha sonora do filme “A Guerra dos Mundos”. Depois ele colaborou novamente com Welles ao compor a trilha do filme Cidadão Kane, a estréia de Welles como diretor. Não foi um sucesso de bilheteria, mas seu impacto é indiscutível até os dias de hoje. O filme ainda rendeu a Herrmann sua primeira indicação ao Oscar – Melhor Partitura Original para Drama – em 1941. Neste mesmo ano, ele ganhou o Oscar na mesma categoria no filme “The Devil and Daniel Webster”.

Mas apesar de todos os prêmios e trabalhos na rádio, foi no cinema que Bernard Herrmann realmente se destacou. A parceria dele com Alfred Hitchcock, o mestre do suspense, fez o favor de alavancar ainda mais sua carreira. O trabalho com Hitch começou com O Terceiro Tiro (The Trouble With Harry, 1955), uma irresistível comédia de humor negro. Ele, além da trilha sonora, ainda fez uma participação como o regente da orquestra em O Homem Que Sabia Demais (The Man Who Knew Too Much), o remake de 1956 do filme homônimo de Hitch de 1934.

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A trilha do thriller psicológico Um Corpo Que Cai (Vertigo, 1958) é um de seus trabalhos mais conhecidos e impactantes. O Main Theme é inconfundível. Em 1959, compôs a trilha de Intriga Internacional (North by Northwest) e em 1960 a de Psicose, filme baseado no romance homônimo de Robert Bloch, especialmente composta para cordas. De longe, sua obra mais conhecida, sem sombra de dúvidas. Mas bem, chega de falar de Psicose, senão vão me mandar embora já já. Herrmann também compôs a trilha de Marnie: Confissões de Uma Ladra (Marnie, 1964), baseado no livro homônimo de Winston Graham, cuja protagonista é Tippi Hedren, que também trabalhou em Os Pássaros e foi uma das louras favoritas de Hitch.

A parceria entre Herrmann e Hitch chegou ao fim quando eles discordaram sobre a trilha de Cortina Rasgada (Torn Curtain, 1966). Hitch queria uma score mais voltada pro jazz e pra influência pop, já que achava que estava se tornando antiquado e as trilhas de Herrmann colaboravam pra isso e que precisavam se modernizar. A propósito, Herrmann compôs a trilha de Taxi Driver, de Martin Scorcese e ainda levou uma indicação ao Oscar em 1976, por Melhor Partitura Original.

Além de Hitchcock, Herrmann trabalhou com François Truffaut, compondo pros filmes Fahrenheit 451 de 1966 e A Noiva Estava de Preto (The Bride Wore Black, 1968). Hermann também colaborou com Brian de Palma, nas trilhas de Irmãs Diabólicas (Sisters, 1973) e Trágica Obsessão (Obsession, 1974). Se Herrmann não tivesse falecido em 24 de dezembro de 1975, de um ataque cardíaco, logo depois de terminar de gravar a trilha de Taxi Driver, ele teria colaborado com Brian mais uma vez em Carrie, a Estranha (Carrie, 1976).

O impacto que Bernard Herrmann tem no cinema com sua música é algo descomunal. Sua trilha é tão adequada, tão única, que não está ali apenas pra se encaixar. Pelo contrário. É, de fato, um complemento à grandiosidade do longa. Ok, pra finalizar, vamos citar Psicose. Hitchcock queria que a famosa cena do chuveiro não tivesse música alguma. Só os gritos. Mas Herrmann o convenceu que a música causaria um impacto bem maior. Bem, deu no que deu.

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