Duffy | Sucesso Desenfreado e o Flop Inesperado

O cenário musical está em constante mutação. Sempre quando uma cantora nova se lança tem toda aquela euforia em cima, aquele bafafá, enfim, o que é que a baiana tem (no caso, o que que a galesa tem). Nos dias de hoje, onde todas as músicas soam “mais do mesmo”, é aliviante ver que a música de verdade ainda existe. Nem que tenha saído de uma cidadezinha no norte do País de Gales (Nefyn), dessa cantora em questão.

A dona de loiros cabelos sedosos e brilhantes olhos azuis, Aimee Ann Duffy, conhecida apenas como Duffy, pra não ser confundida com Amy Winehouse, trouxe o soul classudo e glamouroso a tona, tanto nos vocais como na aparência. Assim como Joss Stone e Corinne Bailey Rae, uma imagem retrô sessentista foi criada pelo produtor Bernard Buttler, um dos responsáveis pelos arranjos clássicos grandiosos de Rockferry, sua verdadeira estréia no cenário fonográfico, no ano de 2008.

Por que “verdadeira estréia”? Veja bem. Seu primeiro disco, ainda lançado com nome Aimee Duffy, foi gravado em galês, só teve repercussão na sua terra natal. Além disso, ela venceu o segundo lugar no Wawffactor, uma versão galesa do American Idol. Segundo lugar? Não por muito tempo. Sobre a voz: peculiaridade vocal é tudo. Você pode achar que a voz dela soa um pouco “Pato Donald”, mas acredite: esse é o “q” especial, o charme da produção. John Lennon e sua voz anasalada ou Madonna e Cyndi Lauper com suas vozes estridentes no começo da carreira que o digam.

Durante a produção do Rockferry, Duffy ouvia compulsivamente Candi Station, David Bowie, Bob Dylan, entre outros. Ao ser perguntada pela sua voz forte, ela disse que não era muito de ouvir música e que não sabia de onde sua voz vinha: ela apenas se sentia impelida. Mesmo soando como Dusty Springfield, a quem é imensamente comparada, ela não conhecia a essência das gravações sessentistas. Na adolescência, ouvia bandas como Oasis e Blur, mas não comprava discos, porque não tinha condições. Mesmo aparentando ser “produzida”, ela mantém a linha clássica e se encaixou muito bem no estilo.

Lançado em março de 2008, o primeiro single do Rockferry foi a faixa título. “É uma música sobre luta – Rockferry é um lugar onde todos tentam se encaixar na vida. Levou seis ou sete meses para que eu pudesse ouvir a música de novo”, disse Duffy. O single seguinte, um dos poucos momentos dançantes do disco, Mercy, foi com tudo pro primeiro lugar das paradas. Sucesso mundial. Não é a toa, já que as demais faixas mantém a linha melodiosa chorosa – o que não deixa de ser um elogio, por sinal.

Depois, Warwick Avenue veio para derreter corações com sua letra depressiva e um belo arranjo de cordas todo trabalhado na melancolia. Era possível tomar as dores dela no clipe. Stepping Stone e Delayed Devotion são o charme em forma de música. A edição deluxe do disco conta com um CD a mais, com 7 faixas inéditas. Destaque para Rain on Your Parade e Stop.

Rockferry, como era de se esperar, foi aclamado pela crítica. Com três indicações ao Grammy Award, venceu apenas uma: Melhor Álbum Pop Vocal. Também ganhou o MOJO Awards de Melhor Canção do Ano para Mercy e Melhor Álbum Britânico e Melhor Artista Feminina no BRIT Awards. Duffy foi a primeira artista galesa a atingir o primeiro lugar da UK Single Chart aos 25 anos de idade.

Mas sabem como é… a satisfação com o sucesso do primeiro álbum traz junto a insegurança e o medo de não repetir o sucesso. Nutrir grandes expectativas nem sempre é viável. Infelizmente, foi o caso no álbum seguinte, Endlessly, de 2010. Diferente do disco anterior, mas ainda assim com os mesmos elementos, Duffy resolveu se influenciar na música pop oitentista, além de trocar a produção de Butler pela do Albert Hammond, pai do guitarrista dos Strokes (Albert Hammond Jr).

O primeiro single, Well Well Well, tem uma influência hip hop dançante, mas sem deixar de soar “Duffy”. Ela quis inovar sem deixar as velhas baladas românticas que a consagraram na faixa título, Breath Away e Too Hurt to Dance. Stuart Price, que já trabalhou com Madonna, co-produziu Keeping My Baby, Lovestruck (que soa bem Britney Spears, por sinal) e Don’t Forsake Me.

Devido ao flop inesperado do primeiro single, Duffy, que ia lançar My Boy – a excelente faixa de abertura do álbum – como segundo single, acabou por desistir da música por tempo indeterminado. Uma divulgação melhor, quem sabe, poderia salvar o disco pelo menos um pouco… mas não rolou. Uma pena um disco tão interessante não ter vingado nos charts. Irônico o fato de um mundo onde Adele reina, Duffy flope. A temática das duas é bem semelhante. Mesmo conceito, mesmo estilo. Sei lá. Apenas não dá pra entender. Bem, até que dá. O 21 da Adele foi melhor divulgado.

Agora o que nos resta é esperar o próximo disco de Duffy e se contentar com as farofas superficiais que tocam nas rádios:  batidas superficiais, autotune, música que bomba e todo mundo sabe cantar. Bom ou quer mais? Termos repetitivos como “eh oh”, “hit the club”, “put your hands up”, onomatopéias desenfreadas misturadas ao batidão farofa. Brinks. Não seria tão malvado assim.

Assista abaixo a alguns hits de Duffy e deleite-se:

 

2 Replies to “Duffy | Sucesso Desenfreado e o Flop Inesperado”

  1. O fato da Adele ter estourado e a (minha amada) Duffy ter simplesmente "desistido" é revoltate, na verdade.
    Eu fico decepcionada com ela, sabe? Por ter deixado se abater pelas criticas. Se tivesse esperado um pouquinho e lançado "My Boy", teria visto o sucesso voltar á bater na porta.
    Enfim, ela é a minha diva das divas. Voltando um dia ou não.

  2. Gostei da matéria. As informações foram muito bem organizadas.. parabéns.
    Só alguns complementos quando ao "terceiro álbum": Em junho de 2011 ela voltou para a Espanha e escreveu duas músicas com Albert Hammond, em outubro entrou no estúdio com David Banner e em fevereiro ela se juntou com Xenomania. Além disso, algumas fotos dela escrevendo em sua casa foram postadas no twitter. – sei não.. o álbum da minha favorita está cheirando muito pop para o meu gosto….
    Acho que ela deveria voltar para Butler e Eg White.

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