“As últimas flores do Jardim das Cerejeiras” leva o público para o centro de um labirinto, em um encontro onírico com o Minotauro, Ariadne e gueixas

“Entrar” no universo da representação e se aproximar do acontecimento teatral, é o elemento que dá a química entre o público e os atores. Mas… E se o público estiver dentro do cenário, literalmente? É o que acontece no espetáculo “As Últimas Flores do Jardim das Cerejeiras”, livre adaptação de “O jardim das Cerejeiras”, de Anton Tchekhov, dirigido por Ione de Medeiros e realizado pelo Grupo Oficcina Multimédia (BH). Com estreia em São Paulo, no Teatro Coletivo marcada para o dia 23 de agosto de 2012, o espetáculo faz curtíssima temporada até 26 de agosto, e nesta proposta, o espectador é convidado para uma experiência única: ficar cercado por cenas que acontecem num raio de 360º, ou seja, ficar “dentro” da peça.

Estreado em 2010 em Belo Horizonte, “As últimas flores…” é o 19º espetáculo do Grupo Oficcina Multimédia que neste ano de 2012 completa 35 anos de atividades, sob a direção de Ione de Medeiros. “As últimas flores do jardim das cerejeiras” se apresentou na 10ª Edição do FIT BH (Festival Internacional de Teatro), e na 5ª edição do Verão Arte Contemporânea e em 2012 cumpriu temporada no Rio de Janeiro, no Espaço Cultural Municipal Sérgio Porto e em Belo Horizonte, no Galpão Cine Horto, através de turnê realizada com recursos do projeto Aldebaran patrocinado por meio do Petrobras Cultural.

As últimas flores do Jardim das Cerejeiras” recria a temática da obra de Tchekhov, e trata de um período de  crise na Rússia do fim do século XIX, onde tudo começa a desmoronar, exigindo o surgimento de uma nova era. Tudo isto é recriado a partir de imagens, sem diálogos, com cenários e figurinos remetendo a culturas antigas e interpretações dramáticas, norteadas de símbolos incluindo a presença de um Minotauro preso em seu labirinto, enquanto aguarda a chegada de seu executor. Juntem-se a esses símbolos, referências à cultura japonesa, com a inclusão das gueixas e das próprias cerejeiras em flor. Essa flor é símbolo do Japão e trata da efemeridade da vida. Essa transitoriedade repercute pela sua simbologia intensa, justificando o culto que o povo japonês lhe dedica, cultua e respeita como a própria bandeira e hino nacional. Noespetáculo, o público pode se deslocar pelos cenários a partir de sua própria escolha, porque as cenas são como paisagens, acontecendo por vezes isoladas e outras de forma simultânea, levando o espectador a interpretações próprias e diferentes visões da peça.

Sobre o texto de Anton Tchekhov, a diretora Ione de Medeiros explica que, se ele não está presente no espetáculo em forma de palavras é porque foi traduzido por imagens refletindo as próprias inquietações de Tchekhov. Todas as cenas estão relacionadas ao labirinto e o Minotauro se situa como uma figura emblemática, associado aos momentos em que estamos presos e não encontramos saída para nossos problemas, e também como reflexo da morte que se espalhou por todos os lados. Este impasse é o mote da obra de Anton Tchekhov”, diz Ione.  “Os aristocratas falidos do século XIX terão que trabalhar e não sabem como fazer. Os antigos servos tomam o poder, mas não sabem como governar. A urgência da revolução social por uma sociedade mais justa começa com esse desequilíbrio e esses desacertos, gerando situações de difíceis saídas, o que cenicamente traduzimos com o mito do Minotauro em seu labirinto”, completa a diretora.

“As últimas flores do Jardim das Cerejeiras”, tem um visual requintado e leva as pessoas para outra época, outro tempo, embalado por uma trilha sonora primorosa de Francisco Cesar, que realizou uma livre colagem a partir de sons da natureza como o canto das baleias e fragmentos de músicas antigas do Oriente e do Leste Europeu.

A montagem dos cenários

A partir de uma concepção cenográfica, que permite a participação do público o grupo homenageia o artista plástico, Hélio Oiticica (1937-1980) e seus penetráveis. No espetáculo o público adentra o cenário, espaço usualmente reservado aos atores, e uma vez dentro dele pode experimentar “se perder” em meio a um labirinto de paredes transparentes onde são projetadas imagens.

Um complexo arcabouço se faz necessário para a montagem do labirinto: são utilizados cubos de metal e madeira, erguidas paredes de tecidos (algodão e filó, que recebem projeções em vídeo, e promovem multiplicidade de transparência e imagens), todo o chão é recoberto de carpete, e sobre o labirinto também são instaladas passarelas, pois a atuação acontece no solo e no alto. Através desta estrutura, os atores transitam com vários personagens, incluindo máscaras e bonecos.

Quem é o Grupo Oficcina Multimédia

O Grupo Oficcina Multimédia foi criado em 1977 pelo compositor Rufo Herrera, e, desde então se propõe a desenvolver um projeto de encenação que prioriza a pesquisa interdisciplinar e o aprimoramento da construção de uma linguagem multimeios. Em 1983, Ione de Medeiros assume a direção mantendo a coerência com a proposta original e seus princípios norteadores – flexibilidade na escolha de fontes referenciais para as montagens, compromisso com a busca de formação e informação, com a liberdade de expressão criativa e com o risco e a experimentação. Criou e realiza eventos em diversas áreas artísticas como Bloomsday, Kafé K, Bienal dos Piores Poemas, o MARP e VAC – Verão Arte Contemporânea.

SERVIÇO
As últimas flores do Jardim das Cerejeiras
Dias: 23 a 26 de agosto de 2012
Horários: Quinta-feira, às 21h, sexta-feira e sábado, às 19h e 21h, domingo às 20h
Local: Teatro Coletivo, Sala 1
Endereço: Rua da Consolação 1623
Duração: 50 minutos
Classificação etária: 12 anos
Lotação: 50 pessoas
Informações (11) 3255-5922 ou oficcinamultimedia.com.br
Ingressos: R$ 10,00 inteira | R$ 5,00 meia entrada. Nas bilheterias do teatro com cartão de crédito ou através do site www.ingresso.com

*As informações são de responsabilidade de seus organizadores e estão sujeitas a alterações sem aviso prévio.

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