Aos 15 anos, LaMínima estreia no Sesi SP a comédia Mistero Buffo, obra do italiano Dario Fo, prêmio Nobel em 1997

Toda obra de arte que possui histórias bíblicas é contada de forma reverente, certo? Errado. MISTERO BUFFO, uma comédia em tom satírico de Dario Fo, ganhou adaptação de Neyde Veneziano para o grupo LaMínima e estreia no dia 22 de março de 2012, no Teatro do Sesi-SP (Avenida Paulista, 1313). Em cena, vinte personagens são desdobrados pela dupla Domingos Montagner e Fernando Sampaio, tendo como parceiro sonoro, no palco, o ator (e também palhaço) Fernando Paz, com Marcelo Pellegrini na direção musical. Neyde Veneziano assina a direção e tradução, esta última em parceria com André Carrico. Esta estreia abre as comemorações de 15 anos, completados em 2012, de criação do grupo LaMínima.

 

São quatro pequenas histórias, escritas por Fo com inspiração em passagens da Bíblia, mas que subvertem a seriedade do assunto através de uma linguagem repleta de gírias, dialetos e situações, que se mesclam à estética de Dario Fo e à do palhaço. Os quadros que compõem o espetáculo são A Ressurreição de Lázaro, O Cego e o Paralítico, O Louco e a Morte e O Louco aos pés da Cruz. Mistero Buffo faz parte das comemorações do Momento Brasil-Itália e é uma produção do SESI-SP. A direção musical é de Marcelo Pellegrini, com trilha sonora executada ao vivo pelo Fernando Paz, que leva ao palco seu trompete, viola caipira, cavaquinho e até um serrote, instrumento típico do repertório musical dos palhaços.

 

Concepção da montagem

 

O espetáculo investe na linguagem do palhaço. Os atores se aproximam do teatro popular, recorrendo à linguagem do palhaço circense buscando sua essência, no corpo, na voz e na música ao vivo, sem os recursos de maquiagem, figurinos ou nariz vermelho. O espetáculo também se mostra como uma reflexão sobre a atualidade desta arte e sua identidade dentro da comédia. Para adaptar o universo de Dario Fo à realidade brasileira (que no texto original se vale de diferentes dialetos italianos), Veneziano utilizou gírias brasileiras tipicamente suburbanas nos diálogos. Além da encenação dos textos inspirados pela técnica de Dario Fo, não faltam gags típicas da arte do palhaço e o humor característico da dupla LaMinima, que neste ano completa 15 anos de estrada.

 

Prêmio Nobel de Literatura em 1997, Dario Fo é um dos dramaturgos mais encenados do mundo. Mistero Buffo foi levado à cena, pela primeira vez, em 1969, daí em diante Fo alcançou a categoria de incomparável homem de teatro, com o espetáculo sendo encenado em milhares de palcos pelo mundo. Considerada a obra prima de Fo, Mistero Buffo discute, em forma de comédia, as tragédias humanas, como a ganância, a fome, exploração, a pobreza”, explica a diretora Neyde Veneziano, autora do único livro em língua portuguesa sobre o artista.

 

Na montagem, Montagner e Sampaio narram fatos e comentam sobre personagens do Evangelho, utilizando o passado como metáfora do presente. No quadro “O Cego e o Paralítico”, por exemplo, os atores interpretam dois miseráveis que, por acaso, estavam no caminho de Jesus enquanto ele fazia a Via Crúcis. Porque se valem da própria miséria para sobreviver, os dois se apavoram ao saber que cruzariam o caminho de um homem que fazia milagres. Não queriam perder suas deficiências, suas fontes de renda. Esmolar, para eles, era mais “digno”.

 

Mistero Buffo é um espetáculo de comunicação direta com o público. A narrativa da peça bebeu diretamente na fonte dos seculares “jograis”, jornais orais em que artistas se utilizavam de seus dotes de palhaços e contadores de histórias para narrar as últimas notícias da corte. “Estes narradores eram diferentes dos Bobos da Corte, que trabalhavam somente na Corte, ou dos Menestréis, que também desenvolviam um trabalho dentro dos castelos. O jogral era gente do povo, que falava diretamente para o povo, lembra Neyde Veneziano. “Entre uma situação e outra do espetáculo, paramos e damos uma introdução histórica ao público, um prólogo, sobre as situações que vamos narrar. Com isso, a plateia se diverte e também se informa. Dario Fo faz isso. Nestes momentos, falamos como pessoas, não como personagens”, conta Domingos Montagner.

 

Sobre o LaMínima

 

Domingos Montagner e Fernando Sampaio conheceram-se em 1989, no Circo Escola Picadeiro em São Paulo, onde iniciaram a dupla de palhaços. Ali criaram e levaram às ruas, reprises, entradas e outros números circenses, desenvolvidos sob a orientação do Mestre Roger Avanzi, o Palhaço Picolino. Em 1997, criam o Grupo La Mínima, que estreou com o espetáculo LaMínima Cia. de Ballet, baseada no humor físico e nas clássicas paródias acrobáticas. Desde então, a arte do circo e do palhaço, conduzem o trabalho da dupla, em espetáculos de rua e sala, que percorreram, nestes 15 anos dezenas de festivais e temporadas nacionais e internacionais.

 

Dentre os principais prêmios recebidos pelo LaMínima estão dois APCA: Melhor Espetáculo Infanto-Juvenil, por Piratas do Tietê – O Filme e Melhor Espetáculo com Técnicas Circenses, por À La Carte; Prêmio Coca-Cola FEMSA na Categoria de Melhor Espetáculo Jovem de 2003 por Piratas do Tietê – O Filme.

 

A Noite dos Palhaços Mudos recebeu em 2008 os prêmios SHELL DE TEATRO SP – MELHOR ATOR para Domingos Montagner e Fernando Sampaio, COOPERATIVA PAULISTA DE TEATRO de Melhor Espetáculo de Sala Convencional e Melhor Elenco.

 

Domingos e Fernando são também os fundadores do Circo Zanni, que busca revitalizar a importância dos circos de pequeno e médio porte na vida cultural das cidades.

 

::: Serviço :::

Local: Teatro do Sesi-SP, Av. Paulista, 1313 (Metrô Trianon-MASP) Fone: 11 3146 7406

Temporada: De 22 de março a 03 de junho, de quinta a  sábado, às 20h30 e domingo, às 20h.

R$ 10,00 e R$ 5,00 (sábados e domingos) – Entrada Franca (quintas e sextas-feiras)

OBS: Haverá bate-papo com o grupo nos dias 26/4, 04/5 e 10/5, sempre com início às 20h.

Recomendação: 14 anos

Duração: 75 minutos

Site oficial: www.laminima.com.br

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