Los Porongas lança novo CD, “O segundo depois do silêncio”

A banda acreana, LOS PORONGAS, acaba de lançar virtualmente  o cd “O SEGUNDO DEPOIS DO SILÊNCIO” . O cd traz músicas inéditas e arranjos interessantes que contemplam a nova fase da banda. Dentre as novidades do novo trabalho está a canção “Sangue Novo”; produzida por Dado Villa Lobos.


A Verdade, enfim, conecta

Mal era janeiro, 2011. E, por isso, não imaginava ouvir logo tão cedo o melhor disco do ano cantado em português. Lá estava o convidativo link, na caixa de entrada, caminho aberto para o download das 12 novas composições do Los Porongas. Em clima de retrospectiva, de ainda sentir saudade de 2010, era o que faltava para que mais uma página e ano ficassem definitivamente pra trás.

“Talvez, amanhã, eu não esteja mais aqui”, é como termina uma das mais pulsantes do disco – Sangue Novo. Antes que essa espécie de aviso (profecia?) deixasse um fã como eu, outra vez, mais perto do silêncio do que das inspiradas canções do grupo, era mais que necessário vampirizar todo o novo sangue, faixa a faixa. Vários jornalistas que admiro já haviam dito que se você se torna um amigo e admirador de certo artista, é óbvio que qualquer tentativa de tornar pública uma análise crítica de um trabalho feito por ele cairá por terra. Quis contrariar essa lógica, verdade. Pior que isso, no auge da emoção, enquanto o repertório inundava os canais auditivos, massageando a alma, escrevi um texto para a coluna que possuo em um jornal. Não satisfeito, levei o texto para o quadro de lançamentos, no programa que produzo e apresento. Estava claro que aquela não era uma crítica sobre o novo trabalho do grupo. Era muito mais um desabafo de alguém que não acreditava que o mercado poderia cometer o mesmo erro de antes (tomara que não), dando as costas – e não uma segunda chance – a uma das melhores bandas do novo rock brasileiro.

Um mês depois, agora sim, 2011 pra valer, mesmo antes do tardio carnaval, sou cutucado pela banda para fazer o release. Como? O que escreveria dessa vez? Nunca foi tão penoso pensar e mandar um release. O engraçado é que ele já fora escrito, só que eu insistia em enxergá-lo e tratá-lo como resenha. Até que, enfim, fui obrigado a aceitar que aquelas palavras eram novamente de adoração a uma banda, a quatro iluminados amigos e músicos vindos de bem longe. E que sempre fomos conectados em primeira instância pela música. Seria provocar desconexão, quebra de pacto, passar para o papel qualquer palavra neutra, de teor crítico, ainda que positivo, sobre a linda obra musical desses camaradas que estimo mais e mais, a cada nova nota, postura, verdade transformada em arte. Aquela frustrada tentativa de resenha ganha, enfim, forma de release, assumidamente, com pequenos ajustes.

Então, amigos, espero que gostem mais uma vez. Convém, como manda o verbo/palavra das mais pronunciadas e bem tratadas pelo letrista, vocalista e amigo Diogo.

Bom, agora chega de silêncio.

O SEGUNDO DEPOIS DO SILÊNCIO

Pode significar muito em termos de som. Em solo brasileiro, deve marcar não só a quebra da ausência de música ou qualquer outro ruído no ar, mas a apresentação das melhores melodias e letras compostas por um artista daqui, em 2011. É o segundo disco cheio dos acreanos Los Porongas, já que o primeiro registro foi um ep, produzido inteiramente pelo grupo, em sua terra natal, Rio Branco pelo selo Catraia Records.

De lá pra cá, eles romperam uma barreira muito maior que a do breve silêncio que separou, em seguida, o primeiro cd, lançado em 2007 pelo selo brasiliense Senhor F, deste novíssimo rebento, que o mercado está recebendo agora. Tiveram que romper a barreira geográfica, que acarreta a cultural e tantas outras, nas dimensões desproporcionais desse país. E desde abril de 2007, o grupo está sediado em São Paulo capital, onde cultivaram e deixaram florir mais um repertório inspiradíssimo. A selva de pedra que, geralmente, oprime e testa a capacidade de (sobre)vida de milhares de habitantes, na cidade mais populosa do Brasil, pode não ser o melhor lugar pra se viver, embora tenha provocado nos integrantes dos Porongas uma espécie de enfrentamento criativo. “No final, quem foi que decidiu quem vai poder plantar as flores que nascem na cabeça”, brota da faixa que abre o trabalho. Seja nos arredores do parque Chico Mendes ou da Av. Paulista, felizmente ninguém pode decidir onde, como e quando florirá a arte da banda. Somente seus integrantes. E, no “jardim das horas” que passam mais rapidamente, no pedaço mais urbano e cosmopolita do Brasil: “cada segundo, uma segunda chance”, revela o quarteto, em Cada Segundo (a segunda do cd), aproveitando verdadeiramente cada respiro, espaço, nota, palavra, na (in)certeza do próximo período de silêncio.

É estranho pensar que o silêncio pode ser ainda o total desconhecimento do grande público da musicalidade ofertada pelos Porongas. Ou, pensando em mercado, infelizmente, o silêncio pode ser o espaço entre o que é rotulado hoje como rock brasileiro – meia dúzia de bandas teens com penteados chamativos, empunhando instrumentos como em propaganda de tintura de cabelo – e rock independente, destinado a quem não couber no comercial sugerido. Não por acaso, Bem longe é a música que vem a seguir. E antes fosse a distância entre Rio Branco e São Paulo o real entrave que manteve um grupo diferenciado como o Los Porongas afastado até agora de um público mais numeroso e menos ruminante. Esta e qualquer outra verdade (aparentemente) desconexa só tende a ficar acentuada, diante da melancolia de Mais Difícil, com Hélio Flanders (Vanguart) cantando a primeira parte, na belíssima cama forrada com um slide, que acaricia as cordas da guitarra de João Eduardo pelas mãos do próprio, além de piano e o porto seguro habitual, estruturado sobre o baixo de Márcio Magrão e a bateria de Jorge Anzol. Após Hélio, Diogo solta a voz com uma firmeza devastadora. Soa quase provocação o vocalista original não cantar logo na abertura de uma das melhores do novo repertório. Talvez puro contra-senso pra deixar claro o quão incompreensível é uma banda assim parecer esquecida em meio à dispersão cultural brasileira. Seria até mais aceitável imaginá-la perdida na imensidão amazônica ou paulistana.

Quem mais perde com isso é o grande público, quer dizer, quem perde pra valer é uma banda ultra talentosa que faz música inteligente, sem ser cabeça e, por isso mesmo, sem abrir mão da bússola que aponta pra gente como Legião Urbana e Radiohead, num leque de referências que vai “muito além de (esconderijo?) tudo isso, o que é que tem?”, como bem cantavam os acreanos, desde que botaram a boca no mundo. E, por falar em referências, não será nada fácil encontrar alguém mais exilado na rua principal do rock brasileiro que o Los Porongas. Um disco que pode parecer intransponível diante apenas do título da primeira faixa, Fortaleza, e deixará claro que é o contrário disso, palatável do início ao fim, sugerindo ainda um “Longo Passeio”, como que não querendo encerrar a jornada, na composição que fecha o repertório, com participação especialíssima de Maurício Pereira. E, se “o mundo é bem mais que o seu quintal”, como cantam Diogo e Maurício, melhor que uma dose de curiosidade, outra de boa vontade – de quem de fato diz gostar de música popular – aliados a uma pitada de sorte consigam conduzir esse quarteto aos ouvidos, então, merecedores de Dois Lados, O Lago, A Verdade, Desordem(Time Out), Sangue Novo, enfim, todas apresentadas nessa nova obra que prima pelo… puro rock alternativo? Só se for ao mau gosto reinante.

CD disponível para download abaixo.

Vale conferir e baixar o cd do grupo (http://losporongas.baritonerecords.com.br/los_porongas_-_o_segundo_depois_do_silencio.zip)!

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *